segunda-feira, 25 de junho de 2012

A condessa de Humaitá

Condessa de Humaitá, enfurnada em pomposo palácio, mármore reluzente ensolarando o salão, eco dos passos, eco do tamborilar dos dedos entediados. A condessa, rubor capilar, mandando e agora desmandando, falta do que fazer. Chama, manda, deita, rola. Espaço demais. Trono vazio ao seu lado, trono maior, coroa no assento, esperando uma cabeça que lhe caiba. Cabeças pequenas demais, os corpos pequenininhos sambando no tronão. Tédio. Tédio e masturbação. Dedos calejados. Aboliu as ceroulas, o calor crescente vindo de baixo. Uma das amas passava o dia a lhe abanar. Ó, maldição, onde andará essa realeza de merda que não - plim! - surge naquele portão, a silhueta contra o sol inconveniente, escura, mas vigorosa, montanha de massa e braços e costas e rosto forte decidido os pêlos no peito de homem versado adorno da experiência a segurança nas pernas de pisada dura o andar ereto de quem já baixou demais a cabeça para as adversidades a fala suave de voz firme pausada lenta arrastada deus esse bafo quente por baixo desse vestido faustuoso tudo o que eu queria essa língua quente ativando as zonas erógenas subindo esse ardor nervo a nervo até o suspiro da boca os tremeliques involuntários dos músculos a paralisia latejante corpo que explode fogos de artifício bomba bomba bomba contrações maldita língua que não para e meu corpo tenta não quer mas tenta fugir escapar dessas chibatadas molhadas e as amas apenas observam com ar preso na garganta e os membros quentes desejando tocar-se quando tudo o que podem fazer é observar meu sorriso sacana e quente para elas e manter os braços para trás rindo horrores das vontades delas incapazes enquanto esse rei de língua ávida espalha toda a ranhura de sua superfície macia sobre minhas carnes mais nobres por deus ele não para quem pode suportar isso deixa sair goza goza goza mais queria explodir todo esse gozo em sua cara um jato pressão enorme expulsa esse demônio para fora do meio das minhas pernas, mas a soleira do portão apenas clareia o sol lá de fora. Ólho com o canto do olho, a ama percebe minhas faces ruborizadas, engole em seco e deixa o salão. Ó, maldição, pequeno príncipe da língua mecânica, onde andarás que não aqui, no conforto de minhas pernas?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Aruba

Frondo. Frondar. Frondo-so. Fronda fronda. Coquetel de côco, batido com rum, pedras de gelo cremosas, canudo fino de plástico azul no copo de requeijão. E o cabelo frondoso dela na revista. Suga o canudo abrindo bem os olhos. Amarelo-âmbar de tanto rum. As nuances tropicais, Aruba. O frondar aristocrático, saltos de cristal. Batida de côco ou Veuve Clicquot? Tacinha vagabunda meio cheia meio vazia, mal cabe um canudo em pé. Copo de requeijão robusto, rum até a borda. Transbordando, aruba. Comprar guarda-chuvinha para por no copo. Aruba, ukelele, hula hula, isso é Havaí, Hawaii. Legião de pinguins, os sem-cara, com suas companheiras frondosas. Meu short de futebol, pé descalço sobre o sofá, copo de requeijão cheio de Montilla Gold com leite de côco. Açucar. Mole, mole. Tridimensional. Folha de papel de rotativa. Agora um copo vazio, que está cheio de ar.